sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Será tarde demais?

Talvez este texto pareça uma crónica de uma mulher isolada do mundo e das pessoas, com um ar de coitadinha. Não é. É apenas o resultado de algum tempo livre, e de algum crescimento pessoal.

As coisas na minha vida foram acontecendo, raramente fiz planos, e sempre que os tentei fazer acontecia alguma coisa que obrigava a uma (ou várias) alteração de última hora.
Tenho 29,5 anos (meio ano pode ser muito importante, 'tá?). Quando todos os meus amigos começaram a sair mais frequentemente e até mais tarde, e para mais longe, eu, por circunstâncias da vida, comecei a ficar mais em casa. Umas vezes por opção, outras por imposição, outras porque me impunha a mim própria, e nunca saberei se foram realmente necessárias. Fiz 2 anos de faculdade sem preocupações a nível de saídas. Ia a todas as festas, começaram a surgir mais conhecimentos, mais pessoas, as pessoas começaram a dar-se cada vez mais e... Ao fim de 2 anos tive de começar a trabalhar. Conseguia ir a festas da faculdade, mas não com tanta frequência, conseguia estar com as pessoas à mesma mas em horários mais limitados, que nem sempre eram conciliáveis. Acabada a faculdade começo a trabalhar, mantendo o outro emprego que tinha. Tempo livre? Não me lembro dele, trabalhava cerca de 14/16h por dia e as pessoas foram começando a diminuir. Não as censuro. Sabiam que desse por onde desse ou estava num emprego ou estava noutro, se tinha folga de um não tinha de outro, etc. Dois anos e uns meses com estes horários e passo a ter apenas um emprego, fiquei com aquele que não tinha horários fixos, que não tinha fins-de-semana, que me ocupava algumas noites, mas que me fazia mais feliz. Mas que continuava a condicionar as saídas porque nunca ninguém sabia onde eu andava.
Passados 29,5 anos estou desempregada.
Pela primeira vez em 29,5 anos não tenho aulas, não tenho dois empregos, nem sequer um. Pela primeira vez em 29,5 anos estou completamente livre 24h/dia.
E além daquelas coisas que todos os desempregados fazem (ou deviam) para sair dessa situação tenho tido muito tempo para pensar.
E pergunto-me, passados 29,5 anos, será que ainda vou a tempo de apanhar o combóio em que a maioria dos meus amigos seguiu? Será que ainda vou a tempo de se lembrarem de mim quando se combinam coisas porque já não existe o factor "estou a trabalhar"? Será que vou a tempo de fazer novas amizades?
Dou comigo a pensar, como é que em 29,5 anos foram poucos em que dei prioridade a outras coisas que não fosse o trabalho?
Dou comigo a pensar que aquilo que eu batalhei para que nunca me faltasse é a única coisa que não tenho agora.
Dou comigo a pensar que provavelmente tenho os melhores amigos do mundo porque apesar de tudo, não tenho passado por este processo sozinha. Mas também sei, hoje, que gostava de ter crescido muito mais com eles, na presença deles, do que o fiz. E isso, isso sim, é tarde demais.

2 comentários:

Suspiro disse...

Vais sempre a tempo, não duvides disso... ;)

Inês disse...

Os amigos a sério ficam sempre, mas às vezes temos de ser nós a ligar para perguntar se está tudo bem ou a combinar coisas :)